Antes da colonização do continente africano pelos países europeus, no século XVII, existiam vários povos que habitavam a África Ocidental. Dentre eles, destacamos os “Akan” (ou Acãn), situados na antiga Costa do Ouro, atual território de Gana. O povo Akan era composto por diferentes etnias, dentre elas: Gyaaman, Ashanti, Akuapem, Akyem, Assins, Bonos, Baoulé, Anyi, Brong, Fante e os povos Nzema de ambos Gana e Costa do Marfim (Filocultural, 2014). Segundo Viana (2018), estas etnias compartilhavam o domínio do comércio do ouro extraído das minas localizadas na região. Eles se espalharam pelos territórios onde, atualmente, estão situados em Gana, Bukina Faso e Togo. Dentre eles, os Gyaaman e os Ashanti são os que guardam relação direta com a simbologia Adinkra.
De forma oral (Nascimento; Gá, 2009, p.30), relata-se a história de que Nana Kofi Adinkra, rei dos Gyaaman, fez uma réplica do banco de ouro de Nana Osei Bonsu, imperador dos Ashanti. O banco chamado de gwa, era símbolo de grande importância para os Ashantis.
Nana Adinkra acreditava que toda riqueza e prosperidade dos Ashantis provinha do simbolismo desse banco de ouro e então ordena que façam um banco igual. Nana Osei fica sabendo do ocorrido e, furioso, declara guerra ao rei dos Gyaaman, que posteriormente é derrotado.
Nana Osei corta a cabeça de Nana Kofi Adinkra e dali em diante, a palavra “Adinkra” passa a significar ¨adeus¨, ¨despedida¨. Este significado é estendido ao tipo de tecido estampado que o rei derrotado usava.
Desta forma, o rei vencedor toma posse das vestimentas de Nana Adinkra, amplia seu espaço geográfico, domina todos os utensílios valiosos, se apropria do belo código de escrita, bem como se utiliza das técnicas de fabricação do tecido e da sua respectiva estamparia (Nascimento; Gá, 2009, p.30).
Portanto, os símbolos Adinkra são um conjunto de ideogramas estampados, essencialmente, em tecidos e adereços. Costumam ser formas de expressão esculpidas em pesos de ouro, forjadas em peças de ferro ou talhadas em madeira, como se fossem carimbos. “Cada um dos símbolos preserva nome e significado, que podem estar associados a um fato histórico, à característica de um animal, a um vegetal ou a um comportamento humano.” (Carmo, 2016, p.52).
Antigamente, os tecidos eram de uso exclusivo da realeza e dos líderes espirituais, sendo utilizados apenas em cerimônias especiais, tais como festas de homenagem ou rituais fúnebres.
A simbologia Adinkra é composta por figuras estampadas que vão além do belo e estético. Trata-se de uma forma de comunicação não verbal que simboliza parábolas, aforismos, provérbios e ditos populares carregados de contexto histórico, marcados por conflitos e conquistas ocorridos no século XIX.
Tratam-se de estampas com significados próprios e não são somente desenhos idiomaticamente tradicionais (Nascimento; Gá, 2009, p.22). Existem mais de oitenta símbolos que juntam, preservam e revelam aspectos da filosofia, história, sabedoria, valores e normas socioculturais desses povos de Gana. Por terem resistido ao tempo, ainda são preservados até os dias de hoje, fazendo parte da cultura e da economia local (Nascimento; Gá, 2009, p.22).
Trazidos para o Brasil no tráfico transatlântico de humanos pela rota da costa do ouro, os símbolos Adinkra constituem no mundo inteiro, segundo Martins (2015), imagens de valorização da cultura iconográfica africana, influenciando a moda, a arquitetura, a pedagogia e outras áreas de conhecimento.
Por seus vínculos com uma cultura importante da diáspora africana no Brasil e por serem ainda muito pouco estudados no país, os símbolos Adinkra implicam saberes que aderem à Lei 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Através do estudo dos Adinkra, é possível mediar debates acerca de temas como racismo, identidade, respeito, diversidade cultural e valorização multicultural, acessando, para isso, perspectivas africanas.
O Adinkra mais conhecido no Brasil é o Sankofa, representado pelo pássaro que olha para trás. Em sua forma proverbial, o Sankofa nos diz: "Nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás. Símbolo da sabedoria de aprender com o passado para construir o futuro" (Larkin e Gá, 2009, p.40). Ao mesmo tempo, é a busca da herança cultural dos nossos antepassados para desenvolver um futuro melhor.
A palavra Sankofa vem da língua twi ou axante, e tem o seguinte significado: san é retornar, ko significa ir, e fa remete a buscar. Assim sendo, pode ser traduzida como volte e pegue. (Segredos do Brasil).
O mesmo símbolo aparece em grafismos diferentes, como, por exemplo, em uma representação que remete à estilização da imagem de um coração. Exemplo do apagamento de referências originárias de contribuições da cultura africana diaspórica para formação da cultura brasileira, o Sankofa está muito presente, de diversas formas, no dia-a-dia do povo brasileiro, porém privado de uma remissão a sua origem em um sistema de comunicação da África Ocidental pré-colonial.
Esse símbolo estilizado em formato de coração, ao lado da representação de um pássaro, está presente em muitos lugares no Brasil. Os africanos esculpiram o seu trabalho como forma de manifestar resistência. Por isso, surgiu a variação de um ideograma adrinkra, que é o Sankofa. Em São Paulo, é possível encontrá-lo em lugares de destaque. Já nas cidades do Nordeste que foram importantes centros comerciais do Brasil Colônia e do Brasil Imperial, como Salvador (BA) e São Luiz (MA), a presença do Sankofa é recorrente na forja de portões e de janelas, além de ser encontrado como grafismo na queima de azulejos e na confecção de adereços e de roupas. (SEGREDOS DO MUNDO)
Aprofundando os estudos, percebemos que há muitas outras presenças dos símbolos Adinkra no nosso cotidiano, tanto forjada em portões quanto presentes em penteados, logos, cerâmicas, adereços, tatuagens e outros suportes.
Elisa Larkin e Luiz Gá, em seu livro Adinkra (2009), organizam os símbolos em categorias e características usadas para sua criação. Há, por exemplo, os símbolos inspirados em animais, como o Akoko Nam, que é a pata da galinha. Há, ainda, representações do crocodilo, da aranha, etc. Abaixo, mostraremos um símbolo de cada categoria, para ilustrar essas divisões expostas no livro.